Transparência (5): Trabalhando com datas

Transparência (5): Trabalhando com datas

O dataset do Portal da Transparência traz três colunas relacionadas com datas: DATA_INGRESSO_CARGOFUNCAO, DATA_INGRESSO_ORGAO e DATA_DIPLOMA_INGRESSO_SERVICOPUBLICO, as quais geram umas análises curiosas, principalmente se relacionadas com a variável salário.

library(treemap)
library(dplyr)
library(ggplot2)
library(ggrepel)
library(ggthemes)
library(lubridate)
df <- read.csv2("/home/sillas/R/data/transparenciaComSalarios.csv", stringsAsFactors = FALSE, fileEncoding = "ISO-8859-15")

Primeiro, as datas vêm neste formato:

df %>%
  select(DATA_INGRESSO_CARGOFUNCAO, DATA_INGRESSO_ORGAO, DATA_DIPLOMA_INGRESSO_SERVICOPUBLICO) %>%
  head()
##   DATA_INGRESSO_CARGOFUNCAO DATA_INGRESSO_ORGAO
## 1                01/07/2006          01/01/1984
## 2                22/10/2014          20/10/2014
## 3                      <NA>          01/08/2015
## 4                30/11/2014          03/09/2014
## 5                19/05/2010          19/05/2010
## 6                02/02/2009          30/12/2008
##   DATA_DIPLOMA_INGRESSO_SERVICOPUBLICO
## 1                           01/06/1984
## 2                           17/02/2010
## 3                           01/08/2015
## 4                           28/06/2006
## 5                           19/05/2010
## 6                           30/12/2008

O R, nativamente, não reconhece este formato como data e sim como texto. O formato de datas que o R aceita é o americano, YYYYMMDD. Felizmente, o package lubridate torna muito fácil converter as datas:

df <- df %>%
  mutate(dataCargo = dmy(DATA_INGRESSO_CARGOFUNCAO),
         dataOrgao = dmy(DATA_INGRESSO_ORGAO),
         dataServico = dmy(DATA_DIPLOMA_INGRESSO_SERVICOPUBLICO))

Essas três variáveis nos dão o dia em que os servidores começaram a trabalhar. Para termos a quantidade de tempo que se passou desde então, criei duas funções que fazem esse cálculo:

CalcMeses <- function(t0, t=today()) {
    x <- interval(t0, t)
    x <- as.period(x)
    x <- year(x)*12 + month(x)
    return(x)
}

CalcAnos <- function(t0, t=today()) {
    x <- interval(t0, t)
    x <- as.period(x)
    x <- ceiling(year(x) + month(x)/12)
    return(x)
}

df$meses.no.cargo <- CalcMeses(df$dataCargo)
df$meses.no.orgao <- CalcMeses(df$dataOrgao)
df$meses.como.servidor <- CalcMeses(df$dataServico)

df$anos.no.cargo <- CalcAnos(df$dataCargo)
df$anos.no.orgao <- CalcAnos(df$dataOrgao)
df$anos.como.servidor <- CalcAnos(df$dataServico)

Agora podemos começar a fazer algumas perguntas aos nossos dados:

1. Qual o tempo médio (em meses) dos servidores no Brasil?

ggplot(df, aes(x=anos.como.servidor)) +
  geom_histogram(binwidth=1) +
  scale_x_continuous(breaks=c(1, seq(5, max(df$anos.como.servidor, na.rm=T)+1, by=5))) +
  theme_bw() +
  labs(title = "Tempo em que os servidores federais estão trabalhando no Estado",
       x = "Tempo no serviço público em anos", y = "Número de servidores")

center

Observações:
* A maioria dos servidores tomou posse há 3 anos.
* Existe um número absurdamente grande de servidores com mais de 30 anos no serviço público. Na verdade, é mais comum encontrar um servidor que tenha mais de 30 anos de serviço do que entre 15 a 25.
* Existem alguns outliers que têm mais de 55 anos que causaram a distorção do histograma.

Separado por região e excluindo os outliers:

escala = c(1, seq(5, max(df$anos.como.servidor, na.rm=T)+1, by=5))

ggplot(subset(df, anos.como.servidor <= 50), aes(x=anos.como.servidor)) +
  geom_histogram(binwidth=1) +
  scale_x_continuous(breaks = escala) +
  facet_grid(REGIAO~., scales="free") +
  theme_bw() +
  labs(title = "Tempo em que os servidores federais estão trabalhando no Estado",
       x = "Tempo no serviço público em anos", y = "Número de servidores")

center

Fica muito fácil detectar a anomalia nos dados: o número de servidores que são funcionários do governo há mais de 35 anos na região Norte é assustador. São mais de 6000, muito mais do que em qualquer região. Na verdade, essa é a faixa de idade com mais pessoas dessa região.

Separado por região, mas mostrado por boxplots:

#Boxplot
# Regiões
ggplot(data=df, aes(x=REGIAO, y=anos.como.servidor, fill=REGIAO)) +
    geom_boxplot() +
    scale_fill_brewer(palette="Set1") +
    guides(fill=FALSE) +
    scale_y_continuous(breaks=escala) +
    labs(title = "Distribuição do tempo no serviço público de acordo com a região", x = "Região", y = "Anos como servidor") +
    theme_bw()

center

Depois do gráfico acima, acredito que não restam mais dúvidas que o Boxplot é uma ferramenta muito superior ao histograma quando o objetivo é comparar a distribuição de uma mesma variável numérica de acordo com outra variável categórica. Aqui, é muito mais fácil detectar que existe algo muito estranho no Norte: Os servidores de lá têm, em média, 25 anos de serviço público. A diferença para as outras regiões é colossal.

As diferenças ficam ainda mais gritantes quando se faz a estratificação por estado. A linha verde horizontal representa a mediana geral do tempo em que as pessoas do dataset estão trabalhando para o governo:

#: Agrupar estados por região
 
#Vetor de cores:
coresEstados <- c(
  #Norte
  "AM" = "#8dd3c7", "AP"="#ffffb3", "AC" = "#bebada",
  "PA" = "#fb8072", "RO" = "#80b1d3", "RR" = "#fdb462",
  #Nordeste
  "AL" = "#8dd3c7", "BA" = "#ffffb3", "CE" = "#bebada",
  "MA" = "#fb8072", "PB" = "#80b1d3", "PE" = "#fdb462",
  "PI" = "#b3de69", "RN" = "#fccde5", "SE" = "#d9d9d9", "TO" = "#bc80bd",
  #CO
  "DF" = "#8dd3c7", "GO" = "#ffffb3", "MS" = "#bebada", "MT" = "#fb8072",
  #SUDESTE
  "SP" = "#8dd3c7", "RJ" = "#ffffb3", "ES" = "#bebada", "MG" = "#fb8072",
  #SUL
  "PR" = "#b3de69", "SC" = "#fccde5", "RS" = "#d9d9d9"
  )


ggplot(data=df, aes(x=UF_EXERCICIO, y=anos.como.servidor, fill=UF_EXERCICIO)) +
  geom_boxplot() +
  facet_grid(. ~ REGIAO, scales="free") +
  scale_y_continuous(breaks=escala) +
  labs(title="Tempo médio dos servidores no\n funcionalismo público por estado", x="Estado", y="Tempo como servidor em anos") +
  scale_fill_manual(values= coresEstados) +
  guides(fill=FALSE) + 
  geom_hline(aes(yintercept = median(df$anos.como.servidor, na.rm = TRUE)), color = "green") +
  theme(axis.text.x=element_text(angle=45)) +
  theme_bw()

center

Parem e percebam o quão absurda é a situação em Amapá, que merece dois comentários a parte:
* A mediana é igual a cerca de 37 anos. Na verdade, a distribuição é tão bagunçada que a mediana deixa de fazer sentido aqui nesse contexto.
* Os servidores com menos de 11 anos, que é a mediana geral, são considerados anomalia no estado.
* Em comparação, Tocantins parece ser uma situação oposta ao estado do Norte.

 
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